segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Descrevendo.

“Eu vejo a dor estampada nos olhos de outra pessoa e penso: “Meu Deus parece tanto com a minha.” E cuido do peito alheio. Porque parece que assim eu também cuido do meu. […] E isso é tão superficial. Eu vejo as pessoas fechando as pálpebras e rezando para que tudo se finde enquanto eu estou aqui me esforçando pra permanecer com elas abertas. Não é fácil. Esse ato de tomar golfadas da vida arranha minha garganta. Às vezes parece que a gente foi feito pra morrer e não pra viver. E por isso nosso corpo rejeita todas essas alegrias supérfluas. […] Daí você me pergunta como existe amor ainda. Eu rio na sua cara e respondo que é tudo inventado pela mídia. Que amor de verdade não é algo palpável. Amor é aquela lágrima que escorrega pelo seu rosto com desejo de ser sentida nos lábios de outra pessoa. Se é que você me entende os maiores amores são reservados a aqueles que estão presos em seus próprios corpos ingerindo doses altas de sadomasoquismos. Sim está achando que eu enlouqueci. Mas a verdade é que todas essas pessoas perdidas na cidade estão desesperadas para colocar pra dentro qualquer coisa que não esteja morta. Qualquer coisa que não suba pela garganta apodrecendo em seus lábios e danificando seu sorriso. Qualquer coisa que não seja sádica e provoque ardência. Quem engole dor está matando o coração. E isso vocês todos sabem como funciona. Pois todos morrem lentamente achando que a culpa é dessa tal de solidão. Solidão que nada a culpa toda é dá televisão! Ah que saco. Eu me esqueci que todo mundo é tarado por uma boa forma de alienação. Enquanto isso eu continuo aqui achando que os meus ideias são fortes demais e que eu sou assim tão sozinha e todos são alheios a mim porque gosto de ver além do coração.
Não sei se está me acompanhando. Caso não esteja pare um pouquinho e respire.
 Um. 
Dois.
 Três.
 Sentiu o ar entrando nos pulmões? Agora me diz: esse suspiro é carregado de que? Quais milhões de coisas você sentiu? Você soltou o ar e o que saiu? Um sopro de tristeza? Um pouco de angustia? Ou você simplesmente mandou as lágrimas se reposicionarem e tentou acalmar os males do coração? Quando coisa a gente simplesmente vai bandeando por entre as lacunas da pele. Quando coisa a gente pega emprestado dos outros. Pega dor. Pega aflição. Ou então rouba carinho, exige atenção. Manda embora todo o acaso junto com a proteção. Se a gente não souber ser da gente rouba a essência de quem gosta um cadinho do nosso peito cheio de consternação. E por isso acaba vagando por ai. Como quem não tem vida. Como quem nasceu pra apodrecer.”

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